quarta-feira, julho 16, 2014

O PASTOR

É um camponês que se alegra: ei-lo
a caminhar por entre árvores, sob o sol.
Controla o cajado, e tem mãos que afagam
as ovelhas, em fartas poções de amor.
Possui olhos que passeiam cuidado e
brilham zelo, detectando alguma prestes a se perder.

Toda a geografia do seu ministério
é conhecida por sua mente
que traça mapas cartográficos,
a seguir os passos das ovelhas caminhantes...

Ele sorri com as ovelhas novas;
se faz grave, com as errantes.
Receptivo para com todas,
vai conduzindo o rebanho
nas íngremes subidas da vida.

Pobre pastor! Ali nos campos verdejantes,
onde conduz o rebanho, ele sabe-se mortal.
Sorri com o desenvolvimento das ovelhas.
Rejubila-se com o aprisco alegre e vibrante.
Mas verte lágrimas da transitoriedade
quando percebe seus passos
caminhando para a eternidade.

O pastor põe suas lágrimas no coração de Deus,
onde o calor divino as seca, e transforma em paz.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,

08 de Junho de 2014 (10h31min).

SOPRO DE CONVERSA

O sopro de conversa entre espaços
da reunião em tom grave
anuncia seu mover lúdico
para afastar a sisudez.
O lago de peixes lá fora
e o campo verde onde crianças correm
– chutando bolas imaginárias
em tempos de Copa do Mundo –
lembram a espontaneidade da vida
enquanto os homens sérios
pensam que carregam nas costas o mundo.
O sopro de conversa propõe risos
e enquanto os outros bebem e falam graves
– emoldurados pelo protocolo –
seus passos caminham entre mesas
a descortinar esperanças
entre risos e abraços
de quem ainda acredita
que liderar é distribuir
palavras do bem em corações crentes
enquanto as flores perfumam
o ambiente da tarde...


Josué Ebenézer Nova Friburgo,

07 de Junho de 2014 (18h).

domingo, julho 06, 2014

O PREGADOR DA PRAÇA

Arquétipo do Messias
estereótipo da ilusão
o pregador é um ente
sobrevivente da esperança.

Foi uma visão de entardecer
aquele pregador na praça
corpo magro em paletó velho
brandindo sua fé para a raça.

Diante de povo que não para
de gente que anda sem ver:
uma Bíblia surrada na mão
como muleta para o existir.

Ele apontava o dedo
acusatório dedo em riste –
para os ouvintes imaginários
de uma oca prédica louca.

Ele esbravejava feroz
aos gritos de palavras soltas
uma escatológica angústia
da solidão do ego exposto.

O burburinho era grande
na praça da cidade antiga
de apito, sirene, ambulante
enquanto o pregador grita.

Enquanto o tempo passando,
os carros fluindo velozes,
o paletó do pregador soltando
e o vento abafando vozes.

O pregador não tem ouvinte,
o pastor está sem rebanho
e a praça fervilha emoções
de corações distanciados.

A tempestade se avizinha,
o pregador se descabela,
mas as rajadas se incumbem
de arremessar folhas ao vento.

No hiato entre pregador e praça
há um intervalo de insanidade
a alienação é o selo do caos
que domina o estertor da cidade.

O relativismo duma vida sem Deus
faz produzir quem Deus queira ser
implanta caos nos relacionamentos,
aniquila a convivência do viver.


Josué Ebenézer Nova Friburgo,

05 de Junho de 2014 (07h54min).

INQUIETANGÚSTIA

A minha “nova vida” passou e eu nem estava lá pra ver.
Eu nem cheguei a entender direito conversão
nem quando o pastor falou que tinha que dar meia volta:
uma coisa de deixar um sentido e ir para outro.
Agora, o da eternidade com Deus...

O que eu pensava naquele tempo, nem sei.
Talvez estivesse olhando para
umas coisas atraentes aqui da Terra.
Foi uma garota? Um amigo? Um lazer?
Nem sei. Só que convertido,
não experimentei o novo ser.

Ah, Nietzsche e seu super-homem
Heidegger, Marx ou Schleiermacher.
Hegel, Bultmann ou qualquer
um dos existencialistas profanos
ou mesmo um dentre os teólogos insanos
que me falasse de coisas ocultas
e não me sarasse as feridas internas
dessa alma inquietante
de angústia exorbitante.
Ah!

Não sei se foi garota, amigo ou lazer,
só sei que fui me converter
no tempo em que os hormônios pululavam a mil
e essa inquietangústia esquizofrênica
me fez mal, me fez mesmo mal
neste país tropical
de futebol, carnaval e samba
que anestesia a alma e o corpo descamba
para um iníquo lado
de não sentir a dor do pecado.

Mas é isso mesmo que faz o Inimigo de Deus.
Como se desse lado de baixo do Equador
a fome fosse zero, esta fome de amor.
Mas isto não é vero, simplesmente existe
e a alma se inquieta e a angústia insiste:
a dor está presente, existe isso por aqui
e só alcança libertação aquele que destrava
a dura maçaneta do coração
e deixa Cristo entrar com o verdadeiro amor...

Josué Ebenézer – Nova Friburgo,

02 de Junho de 2014 (12h51min).