quinta-feira, novembro 14, 2013

DA JANELA DO QUARTO



Vou dormir.
As estrelas nasceram animadas
e o seu passeio nos céus me paralisa.

Da janela do quarto
observo o encolhimento da noite.

A noite cansa e eu também.

Quando acordo...
Ai, meu Deus!
Sinto vontade de continuar deitado
e de assistir um Musical de Natal
com gosto de rabanada e panetone
como se as frutas cítricas
me adoçassem o sangue
e me congelassem no sonho.

Sinto vontade de ser transportado
para a amplitude celestial
dos cenários natalinos
e de ouvir vozes milenares,
de homens e anjos,
e o suave murmúrio
das águas cristalinas dos riachos de Deus.

Transpus febril a sonolência.

Levantar e preparar-me para,
apto, ganhar a rua
deixando para trás:
a casa,
a noite,
o sonho,
não foi difícil.

Diferente foi chegar a casa do Zé
e perceber que a música da noite
continuava comigo,
insistia em mim,
embalando a manhã.

Entreguei ao Zé, alegria
e um pouco de erva-doce
para fabricar balas caseiras sem açúcar.

Mas não funcionou direito...

No outro dia,
após nova noite musical,
ele mandou o menino me chamar.

Então as balas nasceram sem dor
e com sabor de estrelas animadas.

Era uma nova manhã de Deus
na vida dos diabéticos daquele lugar.


Nova Friburgo, 09 de Outubro de 2013 (11h58min).

domingo, novembro 03, 2013

AUTOBIOGRAFIA CIDADÃ



Eu tenho 14 anos.
Ando por ruas que me levam ao sonho.
Tem paralelepípedos se soltando nelas.
Às vezes eu tropeço e caio.
Sinto-me triste e solitário.
Culpo o governo e o descaso.
Mas não me acho em condições de fazer algo.

Eu tenho 16 anos.
Ando nas mesmas ruas que me fazem ver o sonho.
Aumenta o número dos paralelepípedos soltos.
Continuo a tropeçar e a ferir-me.
Sinto raiva e solidão.
Não acho que tenha feito algo errado.
Mas não consigo enxergar o novo caminho das pedras.

Eu tenho 18 anos.
Prossigo nas mesmas ruas do sonho.
Mas agora finjo não existirem pedras soltas.
Continuo tropeçando e caindo.
Às vezes xingo e me desespero.
Ainda culpo os políticos safados.
Mas não me libertei dos discursos de promessas.

Eu tenho 21 anos.
Ando nas mesmas ruas, mas já não vejo o sonho por ali.
As depressões em cada rua aumentaram.
E quando nelas me alojei, vi a lua por outros ângulos.
Já não tenho raiva: encontrei parceiros nos buracos da vida.
E já acho que estou errando se não mudo de postura.
Aderi, então, precocemente, ao voto consciente.

Eu tenho 51 anos.
Como o tempo passou...
Mudei de ruas e reencontrei o sonho.
Tive uma ideia: Vou ser candidato!

Josué Ebenézer
Nova Friburgo, 28 de Outubro de 2013 (11h05min).